O Presidente angolano nomeou hoje o general António Egídio de Sousa Santos para Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas, substituindo no cargo o general Geraldo Sachipengo Nunda, exonerado também por decisão de João Lourenço.
A informação consta de uma nota da Casa Civil do Presidente da República dando conta da exoneração do general António Egídio de Sousa Santos do cargo de Chefe do Estado-Maior General-Adjunto para a Área de Educação Patriótica das Forças Armadas Angolanas (FAA) pelo chefe de Estado, João Lourenço.
Em decorrência da nomeação como novo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas, João Lourenço promoveu ainda Egídio de Sousa Santos ao grau militar de general-de-exército, entre outras mexidas naquela organização militar.
A 26 de Março foi divulgado que o general de exército (a mais alta patente angolana) Geraldo Sachipendo Nunda, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas, foi constituído arguido num processo de alegada tentativa de burla ao Estado, de 50 mil milhões dólares.
Em Novembro passado, o general Geraldo Sachipengo Nunda, anunciou que estava em condições de se reformar, por já ter completado 65 anos de idade.
O anúncio do general, naquelas funções desde 2010, para as quais foi indicado por José Eduardo dos Santos, na altura chefe de Estado e Comandante-em-Chefe das FAA, foi feito na quarta-feira, precisamente na cerimónia de passagem à reforma de 15 oficiais generais.
“A lei das Forças Armadas, a lei do serviço militar, diz que os oficiais generais são reformados aos 55 anos, o chefe do Estado-Maior General aos 58 ou 60 anos, mas nós estamos a nos reformar com 65 anos. E eu sou um candidato para a reforma, porque já fiz 65 anos no mês de Setembro”, disse o general.
Nascido a 13 de Setembro de 1952 em Nharaa, província do Bié, Geraldo Sachipengo Nunda abandonou as forças armadas da UNITA (FALA) em Janeiro de 1993, incorporando-se nas FAA.
Exemplo de reconciliação ou rendição?
João Lourenço, ainda como ministro da Defesa Nacional mas já candidato previamente vencedor das eleições de Agosto de 2017, e o chefe do Estado-Maior General, general Geraldo Sachipengo Nunda, estavam em plena sintonia para que as FAA sejam de facto o melhor exemplo de reconciliação nacional.
João Lourenço mandou vários generais da velha guarda, como Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”, para a reforma e assim, sem os pruridos de serem generais empresários, ou empresários generais, continuarem as suas multimilionárias caminhadas, até mesmo com as mordomias diplomáticas.
O célebre (quase sempre pelas piores razões) general José Maria, chefe do Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM), o chefe da Unidade de Guarda Presidencial (UGP), José Maua, e o chefe da Unidade de Segurança Presidencial (USP), e Alfredo Tyaunda seguiram o mesmo caminho que, por ser dourado, apresenta poucas ou nenhumas ondas.
Num claro elogio ao seu então chefe do Estado-Maior, que desde logo ajudou a matar o seu anterior patrono (Jonas Savimbi), João Lourenço dizia que as “Forças Armadas Angolanas cresceram e fortaleceram-se em todos os pontos de vista. Hoje temos umas Forças Armadas reforçadas na região e no continente pelos seus feitos, coesão e a sua capacidade de manuseamento do armamento e técnica postos a sua disposição”.
Eos elogios a Geraldo Sachipengo Nunda somaram-se, multiplicam-se. Mas tudo tem um fim. Certamente que agora João Lourenço não teme que que o ex-general das FALA possa ter alguma azia ao ver que 20 milhões de angolanos vivem na miséria.
Durante alguns anos o regime (que continua a ser o mesmo) temia que os remotos tempos de 1974 e 1975, para já não falar de outros voos anteriores, tivessem alguma semente na alma do general Nunda. Havia, no núcleo duro do MPLA, que recordasse os tempos do Centro Evangélico de Sapessi, município da Nharêa, e também a actividade militar e política de Nunda entre 1974 e 1992.
Durante alguns anos muitos dos ideólogos do MPLA perguntavam:
Será que enquanto Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Nunda se esqueceu da Angola profunda, daquela onde o povo, o seu povo, o nosso povo, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com fome?
Será que se esqueceu que o presidente que o escolheu para liderar as FAA (José Eduardo dos Santos), a sua Constituição, o seu regime, considera um crime contra o Estado ter opiniões diferentes das oficiais? Será por isso que teve de ser escravo de barriga cheia? Será que se lembrava que o Mais Velho dizia que era preferível morrer livre do que viver escravo?
Será que Nunda não se interrogava sobre as razões que levam a que em Angola uns poucos tenham muitos milhões, e muitos milhões não tenham nada?
Será que, quando o general Nunda dizia que são prioridades das FAA a preparação operativa, combativa e de educação patriótica, transmitindo a vontade e a determinação do Exército de vencer os obstáculos e constrangimentos para que os efectivos disponham de melhores condições, estava a dizer o que pensava ou apenas a dizer o que outros queriam que ele dissesse?
Será que Nunda foi sincero quando manifestou a sua satisfação pela morte de Jonas Savimbi?
Embora muitos angolanos digam que o General Geraldo Sachipengo Nunda esteve muito bem onde esteve até agora, mesmo tendo sempre consigo os louros de ter traído Jonas Savimbi, a UNITA e o povo que ela representava, a quase todos custa a acreditar que ao ver o seu, o nosso, Povo a caminhar para a escravatura, nada faça.
O regime do MPLA é, de facto e de jure, um exemplo de tudo quanto contraria a democracia. Prende e mata inocentes, inventa tentativas de golpe de Estado, descalça-se para contar até 12 mas confunde os pés. Não deixa, contudo, de satisfazer as verdadeiras democracias para quem é melhor, muito melhor, negociar com ditaduras.
Fidelidade de Nunda (não) oferecia dúvidas
Nunca é exagero perguntar: Em alguma democracia séria, em algum Estado de Direito, se vê o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas dizer, em plena campanha eleitoral, que um dos candidatos – mesmo sendo o presidente da República – marcou a sua postura “por momentos de sacrifício e glória”, permitindo “a Angola preservar a independência e soberania nacionais, a consolidação da paz, o aprofundamento da democracia, a unidade e reconciliação entre os angolanos, a reconstrução do país, bem como a estabilidade em África e em particular nas regiões Austral e Central do continente”?
Não. Nas democracias – como o general Nunda sabe – seria impossível o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas ter manifestações públicas deste género, tomando partido por um dos candidatos. Em democracia, os militares são apartidários.
Mas como Angola não é uma democracia, muito menos um Estado de Direito, o Chefe Estado Maior das Forças Armadas, General Geraldo Sachipengo Nunda, não teve problemas em fazê-lo. Recordam-se?
Segundo o general António “Zé” Maria, o general Nunda privilegiava a formação e promoção de oficiais provenientes da UNITA, com o suposto objectivo de controlar efectivamente o exército e, desse modo, facilitar a tomada do poder pela via militar.
É claro que os generais “provenientes” (das FALA), como são chamados nas FAA, juraram sempre a pés juntos que isso era mentira.
No Huambo, em 1975, o general Geraldo Sachipengo Nunda ouviu Jonas Savimbi dizer que “Angola não se define – sente-se”. Hoje, talvez mais do que ontem, o seu, o nosso, Povo não quer que o General a defina, mas tão só que a sinta. Agora que foi exonerado talvez encontre tempo para…sentir.
O canina fidelidade de João Lourenço, bem como de todos os que bajulavam a gamela de sua majestade o rei, foi expressa numa mensagem de felicitação dirigida ao Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Angolanas – José Eduardo dos Santos – por ocasião do fim de ano de 2016, assinada reverencialmente pelo ministro da Defesa Nacional.
João Lourenço reconheceu que o ano de 2016 teve várias dificuldades do ponto de vista económico e financeiro, mas garantia que isso mostrou a divina capacidade de sua majestade para dar a volta aos problemas. Dizia JLo que tudo se resolveu, resolve e resolverá “graças à firme e clarividente liderança do Presidente da República”.
Nem o ministro da Defesa de Hitler, de Teorodo Obiang ou de Kim Jong-un diria melhor. Aliás, convenhamos, que a “clarividente liderança” é um dom que só caracteriza os “escolhidos de Deus” e que, por isso, são os seus únicos representantes na Terra. Veja-se que nem o Papa Francisco tem essa “clarividente liderança”.
João Lourenço salientava, com a sua perspicácia generalícia, que apesar das dificuldades foram concretizados objectivos de suma importância focalizados na preservação da paz, estabilidade, reconciliação nacional e o fortalecimento da democracia e perspectivando uma vida melhor para os angolanos.
É claro que a “clarividente liderança” de Eduardo dos Santos não chega para tudo. Nas últimas décadas esteve vocacionada para engordar o seu clã familiar e séquito de acéfalos e eunucos bajuladores.
Foi e é tudo uma questão de prioridades. Agostinho Neto dizia que o importante era resolver os problemas do Povo. Eduardo dos Santos entendeu que o importante era e é resolver os problemas da sua família. Por isso, os 20 milhões de angolanos pobres continuam em lista de espera. João Lourenço mostra que há jacarés pacíficos. Não consegue é mostrar que mesmo estes deixaram de ser carnívoros.
Seja como for, João Lourenço está convencido (a ladainha é a mesma desde, pelo menos, 2002) que é necessário “preservar a paz e estabilidade, consolidar a democracia e o reforço das instituições do Estado, para ultrapassar as vicissitudes ainda vigentes e renovarmos o estado de espírito dos angolanos”, para o desenvolvimento sustentado do país.
Preservar o quê? Consolidar o quê? Reforçar o quê? Bem que João Lourenço poderia mostrar a sua “clarividência” bajuladora (que todos reconhecemos como de elevado potencial) sem recorrer ao velhinho hábito de nos passar um atestado de matumbez.
Os angolanos, na sua esmagadora maioria, são pobres, são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome. Mas não são matumbos. Podem não ter força, mas têm razão. E um dia destes vão dizer: BASTA!
João Lourenço exprime igualmente a “firme” disposição de continuar a utilizar os meios legítimos e adequados para a preservação da segurança e da defesa da integridade territorial no país, com acções que contribuam para a paz e estabilidades regional, continental e mundial.
Folha 8 com Lusa